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Comunicação, antes das letras, 4

Placas de xisto 1234Bibliografia

Para Katina Lillios, o futuro da sua investigação tem as seguintes prioridades: “Falta-nos a análise química das placas de xisto. Se tratarmos as placas como os objectos geológicos que de facto são, poderíamos saber em que pedreiras foram obtidas, e entender que viagem fizeram para chegar aos túmulos onde as encontrámos.”

Saberíamos algo mais sobre a mobilidade destas sociedades, sobre permutas ou sobre o comércio praticado – assim como Katina Lillios já o tinha estudado exemplarmente com as ferramentas de pedra de anfibolito.

Onde se podem ver as placas de xisto?

Lamentavelmente, os armazéns e os arquivos dos museus onde estão depositados a maioria das placas de xisto não estão abertos ao público. O acesso a estes acervos é apenas facultado a cientistas, estudantes e investigadores da matéria.

Cerca de 2.000 exemplares guardados nos arquivos do Museu Arqueológico Nacional em Belém vão ficar aí mesmo nos tempos mais próximos. Uma bela colecção de cerca de 90 peças está no Museu Geológico de Lisboa; aí, o leitor poderá apreciar alguns exemplares bem interessantes. No Museu Arqueológico do Carmo em Lisboa estão visíveis apenas quatro placas.

O autor deste texto detectou mais exemplares em vários museus regionais, como o de Torres Vedras (10 peças), em Sevilha (Andaluzia), em Huelva (Província de Huelva), Lagos e Olhão (Algarve).

Em Beja (Alentejo) pode ser observado um único, mas magnífico exemplar.

Aguardo com expectativa uma exposição devotada a estas preciosas peças do espólio das gentes ibéricas ... e de toda a Humanidade.

Decifrar as placas gravadas – os estudos de Katina Lillios — e os trabalhos anteriores
Philippe Simões Estácio da Veiga

Foi Philippe Simões Estácio da Veiga um dos primeiros cientistas a publicar imagens das placas de xisto com os seus fascinantes padrões gravados.

Gravuras e informações estavam disponíveis a partir de 1887, data em que Estácio da Veiga começou a publicar as suas Antiguidades Monumentaes do Algarve.

Evidência que todas as placas são todas diferentes, tinha já sabido notar Estácio da Veiga: “Entretanto, não ha ver em algum dos dois grupos duas placas com formas, dimensões e desenhos iguaes...”

“Mas ainda antes de Estácio da Veiga”, salienta Katina Lillios, “já um médico português, o erudito Filipe Simões, tinha escrito sobre as placas de xisto”.

Um século depois, K. Lillios retomou o fio da meada. Observar, documentar, interpretar, testar – foi este o trabalho metódico que Katina Lillios desenvolveu durante dois anos e meio em Portugal e Espanha.

Munida de um vasto horizonte cultural, de uma bem estruturada base de dados no seu computador portátil e de uma câmara fotográfica digital, a cientista foi cataloguizando, peça por peça, uma singular herança legada pelos nossos antepassados megalíticos.

No trabalho publicado em 2002 na Revista Portuguesa de Arqueologia, intitulado Some new views ot the engraved slate plaques of south­west Iberia, Katina Lillios revolucionou a interpretação deste material pré-histórico ao propor “dois modelos para explicar a iconografia e a distribuição das placas (de xisto)”.

Primeiro, a cientista explora os paralelos entre a decoração das placas e motivos usados na tecelagem, em outras cultura e outro espaços geográficos. Em segundo lugar, “desenvolve-se e testa-se a hipótese de que as placas teriam uma função heráldica, servindo para registar a filiação numa linhagem e a distância genealógica do falecido a que estavam associadas a um fundador da mesma (linhagem).”

Na Introdução à análise de correlações, diz-nos Katina Lillios que já alguns cientistas tinham refutado a interpretação especulativa das placas representarem ídolos relacionados ao culto de uma “Deusa Mãe”.

Assim, Isabel Gomes Lisboa avançou já em 1985 a ideia que as placas deviam ser vistas como sendo “ordered and mea­ning­ful, in the sense that they are being used to transmit messa­ges” e sugere que as placas possuíam “função heráldica, não necessariamente associada com indivíduos”.

Se bem que a cientista portuguesa Gomes Lisboa, ao publicar na Archeological Review from Cambridge, já tivesse fornecido a ideia-chave para desvendar o significado das já há mais de um século misteriosas placas, não disponibilizou um modelo – um testbed empírico – para provar a sua tese.

Foi precisamente aqui que Katina Lillios cortou o nó górdico que tinha vindo a atrofiar a avaliação correcta das placas.

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