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Comunicação, antes das letras, 3

Placas de xisto 1234Bibliografia

Ver para crer

No primeiro estudo publicado em Portugal em 2002, a cientista baseou-se em material fornecido por outros cientistas; usou os desenhos publicados na magnífica obra do casal Georg e Vera Leisner, os dois arqueólogos alemães que começaram a inventarização sistemática dos megálitos na Ibéria.

Mas posteriormente, Katina Lillios veio a verificar que as placas ilustradas pelo casal Leisner na famosa obra Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel obedecem ao critério de documentar a variabilidade encon­trada nos espólios tumulares – contudo, em prejuízo do registo da abundância dos distintos tipos e padrões de placas.

Ver para crer! Katina Lillios passou a analisar já não só a documentação fornecida por outros, mas a observar pessoalmente as placas um por uma, conforme foi tendo acesso directo aos espólios – uma tarefa cheia de obstruções e demoras.

O prémio para o esforço: quantas mais placas de xisto foi analisando e inventarisando, mais os factores de correlação foram subindo de qualidade.

A tese inicial está hoje ainda mais bem fundamentada do que em 2002. Significa, que, agora sem sombra de dúvida, não temos nas placas as representações dos “santinhos” dos nossos antepassados, temos sim, os seus “bilhetes de identidade”.

Ou, em linguagem mais científica: temos acesso às suas memórias colectivas.

Catálogo digital: ESPRIT online

Hoje, qualquer pessoa com ligação à Internet também terá acesso a estas memória colectivas, convenientemente digitalizadas, claro. Katina Lillios terminou o primeiro catálogo digital das placas, oportunamente designado por ESPRIT – a sigla para Engraved Stone Plaques Registry and Inquiry Tool.

Esta base de dados integra mais de 1.100 placas de xisto, oriundas de mais de 200 tumulações megalíticas da Península Ibérica. Para consultar esta publicação online, aceda à homepage de ESPRIT: www.uiowa.org.

Pouca evidência para a "Deusa Mãe"

Que fazer com a tal senhora “Deusa Mãe”? Que fazer com os arqueólogos ibéricos de tradição orientalista que insistem em fazer a reverência à Mater Magna que pensam ter sido o objecto da devoção dos fazedores de placas de xisto?

“Certas placas tem traços que eu classifico como placas biomorfas. Para mim, essas placas, tipicamente possuidoras de dois grandes olhos, tem muito mais relação com um animal, do que com um ser humano”, responde K. Lilios.

“Quisessem os ibéricos dessa época representar um ser feminino, teriam espaço mais do que suficiente para gravar seios, ou o triângulo do sexo, ou qualquer outro atributo relacionado com o feminino. Mas não o fizeram.”

“Tudo me indica que o animal representado em algumas placas seja a coruja – Tyto alba – ave que ainda hoje abunda no Alentejo. Animal que vive próximo dos homens, predador nocturno de eficácia fulminante – e que por isso é muitas vezes relacionado com a morte.”

E salienta mais uma vez que estas placas bio­morfas representam um sector muito pequeno do total de placas conhecido: “Apenas cinco por cento de todas as placas tem as características que tem servido para alimentar a tese da Deusa Mãe”.

Continuação: Parte 4

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