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Manuel de Andrade de Figueiredo (1670 - 1735)

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No reinado de João V, um período de significativo avanço das «artes gráficas» em Portugal, destacou-se Manuel de Andrade de Figueiredo (1670–1735), que estabeleceu o que se poderia chamar a «letra caligráfica portuguesa» na obra:

Nova escola para aprender a ler, escrever, e contar. Offerecida a Augusta Magestade do senhor Dom João V. Rey de Portugal, primeira parte por Manoel de Andrade de Figueiredo, Mestre desta Arte nas Cidades de Lisboa. Occidental, e Oriental.

Na Nova escola há, entre os exercícios para os alunos, dois poemas visuais assinados por Andrade. O primeiro deles está escrito no estandarte que um cavaleiro carrega. É uma quintilha em redondilha maior:

O exercício, e louvor das letras,
que o mundo aclama
tem na nobreza o melhor berço,
a que ilustra a fama,
por mais sagrado esplendor.

Segundo o autor, esta sua obra é a primeira do género a ser editada em Portugal, suprindo uma lacuna importante na difusão da caligrafia, da ortografia e da aritmética por meio de manuais em língua portuguesa.

A obra é dividida em quatro tratados:

o primeiro ensina o idioma português, com o objetivo de ler e escrever perfeitamente;

o segundo apresenta os diversos caracteres e tipos de letras que se usavam naqueles tempos;

o terceiro fornece as regras da ortografia portuguesa;

o quarto ensina as noções básicas de aritmética.

A obra propagava de forma simples o conhecimento acumulado pelo autor, bem como difundia os preceitos e concepções da época.

Utiliza um estilo coloquial e de fácil acesso a qualquer leitor, fugindo da linguagem erudita. As observações são pautadas pelo domínio absoluto da prática da caligrafia e pelo manejo dos instrumentos e materiais respectivos.

Pelas suas características, deve ter-se tornado obra muito difundida no seu tempo, fazendo-se circular por todo o reino de Portugal.

No Brasil, são conhecidos exemplares na Biblioteca Nacional, na Biblioteca do Santuário do Caraça (Santa Bárbara, Minas Gerais) e no Gabinete Português de Leitura (Rio de Janeiro).

Em Portugal, foi referência para obras posteriores, como a Nova Arte de Escrever, de Antônio Jacinto de Araújo (1793), e as Regras Metódicas, de Ventura da Silva (1803).

Manoel de Figueiredo atingiu fama e reconhecimento. No manual Nova escola para aprender a ler, escrever e contar, são detalhadamente descritos os materiais e instrumentos para a boa caligrafia.

Manoel de Figueiredo discorre sobre as características dos suportes da escrita, fornece receitas de tintas e apresenta, em 46 gravuras a buril, exemplos de vinhetas e cercaduras em florões, pássaros, animais, anjos e cavaleiros em desenhos figurativos ou caligráficos, compostos a partir do movimento da pena sobre o papel em riscos circulares entremeados.

Além disso, fornece modelos de letras romanas, grifas, góticas e antigas, ensinando como grafar cada uma, além de fornecer exercícios de caligrafia.

Discorre sobre o uso de cada tipo de letra e sua função, de acordo com as características do documento.

Apresenta quatro modelos diferentes de letras capitulares adornadas, das mais rebuscadas às mais simples.

A Nova Escola, impressa com licenças do Santo Ofício, do Ordinário e do Paço, também orienta sobre a forma correcta de o mestre repreender seus alunos. “O castigo não se encobre com o amor, pois o mesmo Deus aos que ama castiga. E o castigo se é demasiado parece tirania, se proporcionado é remédio”, escreve Figueiredo.

A Nova Escola é considerada uma revolução do ensino no século 18 pela publicação O pensamento pedagógico em Portugal, escrita por Rogério Fernandes (Biblioteca Breve).

“Andrade de Figueiredo atribuía largo alcance social à educação. As qualificações dos súditos, assegurava sem hesitações, provêm da sua aplicação enquanto meninos e do ensino dos mestres”, escreve o autor. Rogério Fernandes observa, ainda, que Manuel de Andrade de Figueiredo “recusava o método global e preconizava o método silábico”, pois, “na formação das sílabas consistiria o principal e o maior trabalho do menino”.

Ao analisar a gramática, Rogério Fernandes afirma que «o autor atribuía à impreparação metodológica dos docentes o fato de os discípulos penarem longamente nas escolas sem aprenderem a ler.»

No entendimento de Rogério Fernandes, Andrade de Figueiredo tinha “uma percepção muito nítida das necessidades dos professores nas escolas elementares”. Ele destaca que “a Nova Escola é, por isso mesmo, a obra pedagógica portuguesa do século 18 que mais diligencia inserir-se na realidade escolar, na medida em que pretende constituir um ponto de apoio para o docente”.

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A famosa Nova Escola para Aprender a Ler, Escrever e Contar foi impressa em 1722.

Fontes

Em homenagem a Manuel de Andrade, o typeface designer português Dino dos Santos publicou a sua fonte caligráfica Pluma, que integra Pluma Primeyra, Segunda e Terceyra.

A fonte Methodo, igualmente dotada de três variantes, é uma reprodução dos exercícios exigidos a estudantes, patentes no Methodo Calligraphico, de Pinto de Mesquita.

Temas relacionados

A fonte Andrade, de Dino dos Santos, publicada em 2005. Todos os seus desenhos estão à vista em www.dstype.com e à venda em www.myfonts.com

Publicações

Figueiredo, Manuel de Andrade de, Nova Escola para aprender a ler, escrever, e contar... primeira parte / por Manoel de Andrade de Figueiredo, Mestre desta Arte nas cidades de Lisboa Occidental, e Oriental. - Lisboa Occidental : na Officina de Bernardo da Costa de Carvalho, impressor do Serenissimo Senhor Infante, 1722. - [18], 156 p., 44 f. gravadas a buril : il. ; 2º (31 cm)

http://purl.pt/107

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Figueiredo, Manuel de Andrade de, Nova Escola ... Edição da Livraria Sam Carlos, Lisboa, 1973] 24x33 cm. XXIV-156-I págs. e 47 gravuras.

Edição fac-similada do mais belo e célebre livro português sobre o ensino da leitura e da escrita bem como da arte da caligrafia.

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