Abraão ben Samuel Zacuto (1450-1522)Abraham bar Samuel Abraham Zacut Judeu sefárdico, rabino, astrónomo, matemático e historiador que serviu na corte do Rei João II de Portugal. Foi em Leiria que Samuel e Abraão d'Ortas publicaram as suas famosas tabelas numéricas, o Almanach perpetuumO Almanach perpetuum foi um dos quatro primeiros livros impressos em Portugal e o primeiro no que respeita às Matemáticas. É um livro raro, e por isso Joaquim Bensaúde fêz reproduzir em 1915 pela fotogravura um exemplar que existe na Biblioteca de Augsburg, na Alemanha, e a tradução em castelhano dos Cânones (Regras para o seu uso), que existe na Biblioteca Pública de Évora. BiografiaZacuto nasceu em Salamanca, em cerca de 1450. Estudou astrologia e astronomia e tornou-se professor destas disciplinas na Universidade de Salamanca, e mais tarde nas de Saragoça e Cartagena. Também se formou em lei judaica e tornou-se rabino. Quando da expulsão dos judeus de Espanha em 1492, Zacuto refugiou-se em Lisboa, Portugal. Foi chamado à corte portuguesa e nomeado Astrónomo e Historiador Real por João II, cargo que exerceu até ao reinado de Manuel I. Foi consultado por este monarca acerca da possibilidade de uma viagem por mar até à Índia, que apoiou e encorajou. As tabelas de 1496
Abraão Zacuto foi o autor de um novo e melhorado astrolábio, que ensinou os navegantes portugueses a utilizar, e também de melhoradas tábuas astronómicas que ajudaram a orientação das caravelas portuguesas no alto-mar, através de cálculos a partir de observações com o astrolábio. As suas contribuições salvaram sem dúvida a vida de muitos marinheiros portugueses e permitiriam as descobertas do Brasil e da Índia. Ainda em Espanha, escreveu e publicou em 1491 um tratado de astronomia em hebreu, com o título Ha- Hibbur ha-Gadol.
O célebre Almanach Perpetuum foi escrito entre os anos de 1473 e 1478, data que é referida pelo seu autor na sua introdução. O livro foi reeditado e impresso tipograficamente em Leiria em 1496, tendo sido traduzido do hebreu para o latim e do latim para o castelhano por Mestre José Vizinho, médico da corte de D. João II e astrónomo, que foi discípulo do autor. Em Leiria trabalhava Samuel D'Ortas e os seus três filhos. Tinham imprimido nessa cidade dois livros em hebraico, Provérbios com comentários, em 1492, e os Primeiros Profetas, com comentário, em 1495. Foi na tipografia de Leiria de Abraão d'Ortas que Zacuto publicou em 1496 a obra Biur Luchot (Explicações das Tábuas), Tabula tabulay celestius motuuz astronomi zacuti necnon stelay firay longitudinez ac latitudinez. , que foi traduzida do hebraico para o latim pelo seu discípulo José Vizinho. Neste livro publicou as tábuas astronómicas para os anos de 1497 a 1500, que foram utilizadas, juntamente com o seu astrolábio melhorado de metal, por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral nas suas viagens. O método para a determinação das latitudes foi aplicado na náutica lusitana pela primeira vez por José Vizinho, cosmógrafo e médico de João II, em uma viagem que, para o experimentar, fêz à Guiné em 1485. Entre as aplicações que depois se fizeram dele, ficaram especialmente assinaladas a que fêz Vasco da Gama na ilha de Santa Helena, quando aí abordou na sua primeira viagem a Índia, e a que fêz Mestre João, médico-astrólogo da armada de Pedro Álvares Cabral, em 1500, na ocasião de esta armada aportar a terras de Santa Cruz.
Os regulamentos das antigas navegações portuguesas foram reunidos num livro intitulado Regimento do astrolábio, do qual se conhecem dois exemplares, pertencentes a duas edições diferentes: um, mais antigo, encontrado por Joaquim Bensaúde na Biblioteca Nacional de Munique, e outro, mais completo e mais perfeito, encontrado por Luciano Cordeiro na Biblioteca Pública de Évora.
A expulsão e o exôdoZacuto viveu em Portugal apenas 6 anos, porque em 1496 Manuel I seguiu o exemplo dos Reis Católicos de Espanha e decretou a expulsão do país de todos os judeus que recusassem a conversão ao catolicismo através dos baptismo. Zacuto foi um dos poucos a conseguir fugir de Portugal após as conversões à força e as proibições de emigração que Manuel I impôs aos judeus portugueses. Zacuto refugiou-se em Tunes, no Norte de África, tendo depois passado para a Turquia, vindo a morrer na cidade de Damasco (Império Otomano) em ano posterior a 1522. Em 1504, em Tunes, Zacuto escreveu uma História dos Judeus, Sefer ha-Yuasin, desde a Criação do Mundo até 1500, e ainda vários tratados astronómicos. Esta História foi muito respeitada e republicada em Cracóvia em 1581, em Amsterdão em 1717, e em Königsberg em 1857. Em Londres foi publicada uma edição também 1857. Temas relacionadosAlém do Almanach de Zacuto outras obras tiveram uso na navegação marinha da época por exemplo o Repertório dos Tempos, publicado por Valentim Fernandes. LinksBibliografiaYosef Kaplan: A Diáspora Judaico-Portuguesa: as Tribulações de um Exílio (Dissertação). Jorge Martins: Portugal e os Judeus - Volume I, Dos primórdios da nacionalidade à Legislação Pombalina. Joseph Kastein. História Judaica, 1931. Joaquim Bensaúde. LAstronomie Nautique au Portugal à Epoque des Grandes Descouvertes. Berna, 1912. Francisco Gomes Teixeira. A História das Matemáticas em Portugal. Lições proferidas de 12 a 19 de Abril de 1932. Ordenações Filipinas, edição fac-simile da edição feita por Cândido Mendes de Almeida, Rio de Janeiro, 1870. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985. Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, formas e uso das letras. Copyright © 2006 Paulo Heitlinger, ISBN 10 972-576-396-3 , ISBN 13 978-972-576-396-4, Depósito legal 248 958/06. Dinalivro. Lisboa, 2006. |
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