Tratado de Confissom (1489)O único exemplar conhecido deste incunábulo impresso em Chaves em 1489 foi descoberto em 1965 pelo investigador Pina Martins.A sua importância reside no facto de ter sido considerado algum tempo «o primeiro livro impresso em língua portuguesa» conhecido. Contudo, o Sacramental parece ter sido impresso ainda antes, em 1488. O Tratado de Confissom é um manual para instrução do clero na tarefa de ministrar o sacramento da penitência aos fiéis cristãos. O Tratado de Confissom, impresso em Chaves em Agosto de 1489, foi descoberto em 1965 por Pina Martins, que o publicou em edição dipomática em 1973 com um estudo introdutório. O Tratado de Confissom é uma obra de cariz pastoral. Desconhe-se o autor, pelo facto de ao único exemplar existente (Biblioteca Nacional de Lisboa) lhe faltar a página de rosto. A presença de diversos castelhanismos no texto faz suspeitar que a obra seja uma tradução de uma obra castelhana até ao momento não identificada. Polémico e repressivo, é um retrato dos «comportamentos desviantes» dos cristãos do século XV, especialmente no âmbito sexual. Nele são tratados em pormenor o adultério, a violação ou estupro, a pedofilia, o incesto, o aborto e a homossexualidade. José Barbosa Machado, docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, procedeu a uma nova edição e elaborou o estudo histórico, cultural e informático-linguístico que esta obra exigia. No estudo são abordados: o nível cultural do clero com cura de almas durante o século XV em Portugal; breve história da literatura penitencial; a estrutura interna e a temática do Tratado de Confissom; e as fontes utilizadas. São referidos aspectos fonéticos, gráficos, morfossintácticos, lexicológicos e semânticos que permitiram ao autor do estudo concluir por um lado que a redacção do texto da obra é bastante anterior à data da sua impressão, o que vem contrariar tudo o que foi dito até ao momento acerca da sua datação, e por outro que a obra é uma tradução/adaptação de textos castelhanos com a mesma temática. A edição actualizada, segundo o editor, foi-lhe proposta «por vários leitores pouco familiarizados com a grafia dos textos em português antigo. Embora sem grande valor linguístico, facilita todavia a leitura e pode ser um bom instrumento para estudos de âmbito histórico, sociológico e cultural, em que a fidelidade gráfica ao original é irrelevante.» Nesta edição, o editor procurou manter algumas das particularidades fonéticas do original, sempre que as mesmas não acarretassem dificuldades de leitura e de compreensão. Segundo o editor, «a publicação do glossário neste volume impunha-se, por um lado para a dilucidação de possíveis dúvidas surgidas no leitor menos experimentado português medieval, e por outro para a complementação de informações certamente úteis ao estudo da língua portuguesa na época em que a obra foi redigida.» A listagem de palavras, retirada da base de dados que o editor elaborou para fazer o estudo informático-linguístico da obra publicada no volume I, constitui uma forma rápida e fácil de aceder aos dados relativos a cada uma das formas. Fontes digitaisGóticas Rotundas, fontes OpenType, de Paulo Heitlinger PublicaçõesMartins, José V. Pina. O «Tratado de Confissom» e os problemas do livro português no século XV, Lisboa, 1974. Martins, José V. Pina. Tratado de Confissom. Lisboa: Imprensa Nacional, 1973. Mendes, Maria Valentina Sul (coord.) Os incunábulos das bibliotecas portuguesas, 2 vols., Lisboa, Biblioteca Nacional, 1995. Machado, José Barbosa. Tratado de Confissom - vol. I - edição Semidiplomática e Estudo Histórico. Braga: APPACDM, 2003. Machado, José Barbosa. Tratado de Confissom, vol. II. Edição actualizada, Glossário e Listagem de Palavras. Braga: APPACDM, 2004. Curto, Diogo Ramada (coord.), Bibliografia da História do livro em Portugal, séculos XV a XIX, Lisboa, Biblioteca Nacional, 2003. Eisenstein, Elizabeth L. A Revolução da cultura
impressa - os primórdios da Europa Moderna. Tradução
de Osvaldo Biato. São Paulo: Ática, 1998. |
|
Quer usar este texto em qualquer trabalho jornalístico, universitário ou científico? Escreva um email a Paulo Heitlinger. |
|