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A greve dos griffarins em Lyon

A primeira greve operária da história da França — o «Grand Tric de Lyon» — forçou, na Primavera de 1539, o encerramento de todas as oficinas tipográficas da cidade durante três meses. Para além da manifestada insatisfação dos jornaleiros mal pagos, este longo conflicto estendeu-se a Paris e marcou a ruptura definitiva entre mestres e jornaleiros. A partir deste ponto, muitos dos momentos altos da luta de classes na Europa foram liderados pelos tipógrafos...

Tric, tric! — foi o sinal que despoletou a greve. Um a um, os compagnons imprimeurs abandonaram os ateliers. A palavra de ordem espalhou-se como uma mecha a arder. Em toda a cidade de Lyon, paralisou-se o trabalho nas oficinas tipográficas — uma das mais importantes indústrias deste burgo.

No mês de Abril de 1539 começou o Grand Tric (termo derivado da palavra alemã Streik - greve). A primeira greve operária no país que iria conhecer, pela primeira vez, uma comuna — a Comune de Paris.

Sob os efeitos da inflação galopante, os operários tinham perdido poder de compra, e, para agravar a situação, os mestres impressores — igualmente atingidos pela alta dos preços — tinham deicido suprimir a refeição gratuita que fazia parte da renumeração. (Já em 1529 tinha havido uma greve da fome em Lyon).

A Imprensa em Lyon

Lyon foi na primeira metade do século XVI um florescente centro da indústria da impressão. Cerca de 450 oficinas funcionavam na cidade — propriedade de mestres impressores, artesãos independentes que trabalhavam para os editores.

A oficina de Etienne Dolet contava três prelos, as de Sébastien Gryphe e de Jean de Tournes contavam até seis prelos.

Estes mestres tipógrafos, proprietários das suas oficinas tipográficas, empregam jornaleiros (trabalhadores assalariados) e aprendizes (jovens que aprendiam o ofício e trabalhavam em troca de casa e comida).

Atelier Lyon
Atelier tipográfico do século XVI

Calcula-se que eram cerca de 1.000 pessoas labutando na indústria gráfica de Lyon. Tudo seguia na santa rotina — até que os jornaleiros começam a reclamar contra a exploração a que eram submetidos pelos mestres.

Não aguentavam a desumana jornada de trabalho de 16 horas diárias — das duas da manhã às dez da noite, com quatro horas de intervalo para as refeições. «Un labeur et peine non seulement insupportables, mais quasi incroyables». Assim, os operários assalariados abandonam a corporação dos tipógrafos, que reunia mestres e jornaleiros.

Fundam sua própria associação, reivindicam salários melhores, organizam protestos, distribuem panfletos, fazem sua primeira greve em 1539.

Protestos como este repetiram-se em diversas cidades da Europa por todo o século XVI. Foram sinais de uma transformação profunda na Europa: a velha organização medieval do trabalho, familiar e corporativa, tinha dado lugar à nova ordem capitalista.

O mestre conserva o orgulho e o prestígio social do artesão medieval, expresso nas ricas corporações de ofícios da época. Mas de facto já não era mais senhor da produção, pois estava já dependente dos encargos que recebia dos editores. Precisava de recorrer a um mercador que lhe financie a matéria-prima e compra seus produtos.

As corporações, dominadas pelos mestres, continuavam a regular o exercício das profissões. Reduzindo a oferta para benefício exclusivo de seus integrantes. Fazendo que fosse seja cada vez mais difícil conseguir o grau de mestre.

Os jornaleiros, com sua ascensão bloqueada, transformam-se em trabalhadores assalariados. Eram donos apenas da sua força de trabalho.

Se um mestre ganha o equivalente a cem, um jornaleiro não ganhará mais do que 75 (mais abaixo na escala, serventes braçais ganhariam 50 e os biscateiros eventuais não passariam de 25).

Os tipógrafos jornaleiros de Lyon protestaram contra a carga de trabalho. Segundo o regulamento medieval, aprendizes e jornaleiros comiam à mesa do mestre (e às custas dele). Mas os mestres argumentam que a vida estava mais cara, que os editores pagam uma miséria por folha impressa, e decidem que não podem continuar alimentando os jornaleiros.

Impõem um regime de trabalho no qual os jornaleiros recebem um salário fixo e do qual deveriam tirar o seu sustento, incluindo as refeições na taberna da esquina.

Acabaram as ligações meio profissionais, meio paternalistas, entre mestres e trabalhadores. Instala-se a relação de trabalho impessoal, típica do capitalismo, mediada apenas pelo salário, com toda a insegurança que ela acarreta.

Os jornaleiros das tipografias de Lyon, humilhados pela expulsão da mesa dos mestres, retrucaram com a ironia; baptizaram sua nova associação de griffarins, que quer dizer glutões).

Nas cidades mais avançadas, em meados do século XVI, o mercado de trabalho já é muito parecido com aquele que virá nos séculos vindouros.

O desfecho da greve dos tipógrafos de Lyon? As autoridades da cidade, tomando o partido dos patrões, pediram a intervenção do rei François I, em Paris.

O rei baniu a associação dos griffarins, proibiu que os jornaleiros se reunissem em grupos de mais de cinco e decretou que eles não poderiam deixar nenhum trabalho por terminar para entrar em greve...

Este artigo foi compilado usando elementos de textos de Armando Mendes e Madeleine Rebérioux.

Publicações

Natalie Zemon Davis . A Trade Union in Sixteenth-Century France . The Economic History Review, New Series, Vol. 19, No. 1 (1966), pp. 48-69.

Jr, William H. Sewell Work and Revolution in France: The Language of Labor from the Old Regime to 1848. Cambridge University Press; 1st edition 1980.

Observações

Natalie Zemon Davis notes, "Golfarin is an old French word for 'glutton.' This was an accusation often thrown at the journeymen by their masters, who resented their demands for a higher food-salary. From Golfarin, the name became most frequently Griffarin, a neologism suggesting claws or talons, and thus the power of the Company."
The Griffarins referred to journeymen working for lower wages as Forfants. Forfants faced considerable peril from the tightly bound Company.

Links

www2.ac-lyon.fr/enseigne/lettres/louise/lyon

web.mit.edu/21h.418/www/philip/history.html

Biblioteca de Lyon
In: [Calendrier des bergers. Français moyen. 1508]. Le Kalendrier des bergiers ... Imprime a Lyon sur le Rosne: par Claude Nourry, le penultime de iuing [29 juin], lan 1508. Cote: Rés Inc 303
Kalendrier des bergiers ... Imprime a Lyon sur le Rosne: par Claude Nourry, le penultime de iuing [29 juin], lan 1508. Collection Bibliothèque Municipale de Lyon.

La Bibliothèque municipale de Lyon possède parmi les 300.000 volumes anciens qu’elle abrite une collection particulièrement riche d’éditions lyonnaises. En effet entre 1525 et 1540, Lyon est la seconde ville de France avec ses 40.000 habitants.

Elle est devenue une ville frontière et une ville carrefour incontournable et ses quatre foires annuelles sont fréquentées par toute l’Europe.

A l’apparition du livre après 1450, Lyon se fait vite une réputation dans le domaine de l’imprimerie: de ses ateliers sortent des livres illustrés, des livres de chevalerie ainsi qu’une littérature narquoise et facétieuse (Rabelais) qui s’exporte dans tous les pays. C’est à Lyon que sont imprimés pour la première fois en France des livres en italique (caractères de civilité), des caractères hébraïques et des impressions musicales.

Au milieu du 16e siècle, 450 ateliers typographiques fonctionnent et font de Lyon le siège du commerce international du livre. De cette abondante production, la Bibliothèque municipale de Lyon garde un important témoignage dans tous les domaines du savoir : bibles illustrées, ouvrages de droit, d’érudition, de science et de médecine, d’histoire et de littérature avec des auteurs lyonnais ou ayant vécu à Lyon… Enfin des pamphlets, des pièces de circonstances. Viennent s’y ajouter de nombreuses éditions étrangères dont certaines fort rares notamment d’Italie, d’Allemagne et d’Espagne dans tous les domaines. www.imprimerie.lyon.fr

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