Tipografia Futura
             
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As letras dos Romanos, 1

Dos romanos, colonizadores da Península Ibérica e de mais meio mundo, veio o alfabeto latino, a base da escrita e também da tipografia contemporânea ocidental, assente nos caracteres que chamamos romanos.

Capitalis monumentalis

Note que as letras das inscrições lapidares apresentavam um belo efeito tridimensional, obtido pela gravura na pedra, que tinha necessariamente alguma profundidade. Assim, o aspecto das letras gravadas variava consoante o ângulo de incidência da luz do dia.

Porém, quando se transportavam as letras para o gesso liso de uma parede ou para um pergaminho (e mais tarde para o papel), perdia-se este maravilhoso efeito...

Desenhando a traços largos a génese e a evolução dos glifos do nosso alfabeto – do alfabeto latino –, obtemos o seguinte quadro. No Egipto, por volta de 1500 a.n.E., fora estabelecido um alfabeto fonético com 23 ou 24 caracteres, representando consoantes.

Contudo, os egípcios, mais interessados no aspecto mágico que no aspecto funcional da escrita, nunca substituíram os hieróglifos pelos glifos fonéticos que tinham desenvolvido e aperfeiçoado – preferiram usar uma escrita com forte redundância, que combi-nava caracteres alfabéticos com hieróglifos.

Por volta de 1000 a.n.E, os fenícios, marinheiros e comerciantes com sentido prático, receberam o alfabeto egípcio e adoptaram-no gradualmente até assentar aquele que seria a base de todos os alfabetos usados actualmente no Ocidente e para as línguas indoeuropeias.

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O alfabeto fenício

Os diligentes fenícios tinham reconhecido a superioridade de um alfabeto fonético sobre os complexos sistemas de escrita baseados em pictogramas.

Por sua vez, os linkGregos importaram o alfabeto fenício, ao qual adicionaram as suas vogais. A versão usada em Atenas, o chamado alfabeto jónico, foi o padrão de referência para a Grécia clássica.

linkAs letras dos Gregos

Dos linkGregos, o alfabeto passou para os etruscos, cuja cultura foi o berço da cultura latina.

Por sua vez, os romanos em expansão territorial, conhecidos pelo seu àvontade em assimilar os mais diversos elementos culturais estrangeiros (que eles classificavam de «bárbaros»), adaptaram o alfabeto grego / etrusco à sua língua e à sua fonética.

O abecedário latino tornou-se o alfabeto que hoje usamos diariamente.

As serifas das letras romanas

Inicialmente, as letras romanas escreviam-se (ou esculpiam-se) sem acabamentos terminais e com hastes de grossura regular; só gradualmente, com o aperfeiçoamento das ferramentas para trabalhar a pedra, é que se desenvolveram as terminações designadas por patilhas ou serifas.

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A célebre inscrição na Coluna de Trajano:
esplendor da Capitalis Monumentalis
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Irwin McFadden
Versais romanas de Irwin McFadden
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A fonte «Goudy Trajan», baseada em desenhos de Frederic W. Goudy das letras gravadas na Coluna de Trajano. Designer: Jason Castle
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Trajan
A fonte Trajan, de Carol Twombly
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Quando passou a usar serifas, a letra romana também mostrou contrastes na grossura de traço. No século i a.n.E, finalizando uma lenta evolução de 700 anos, os romanos usavam um alfabeto versal muito semelhante ao nosso, no qual faltavam apenas as letras J, V, W e Z.

Dos primeiros abecedários latinos que sobreviveram até ao nosso tempo, conhecemos um com data de 79 a.n.E, descoberto durante as escavações sistemáticas que começaram em Pompeia por volta de 1763.

Relata o perito tipográfico linkStanley Morison (o autor da Times New Roman) que sabemos pouco sobre a história do ensino da leitura e da escrita; contudo, dos romanos sabemos que a didáctica do abecedário latino começava já em casa, antes de a criança ir à escola.

Quintiliano (3995 n.E.) relata que as crianças (das famílias abastadas, presumimos) tinham alfabetos de brincar, sem dúvida em forma de maiúsculas, feitos em madeira ou em marfim.

Os mais aplicados eram premiados com bolinhos doces em forma de letras. Com alguma prática, a criança já escrevia sobre tabuinhas cobertas com cera de abelha – o que lhe permitia corrigir palavras ou apagar tudo e tornar a escrever.

Capitalis: a letra de representação do Império Romano

Hoje sabemos que as letras lapidares dos romanos, se bem que seguindo padrões vigentes em todo o Império romano, eram resultado do modo ou do gosto individual do desenhador de letras, e não seguiam quaisquer regras geométricas ou numéricas.

Para gravar letras em pedra, os artesãos romanos primeiro pintavam os traços com um pincel, talvez com algum auxílio da régua e do compasso, mas sem o rigor de esquemas numéricos.

No Império Romano não existiam cânones universais para o desenho de inscrições – nem para a forma das letras, as suas proporções, a grossura do traço, o ângulo de inclinação, o desenho das serifas ou a profundidade do corte na pedra.

Portanto, o verdadeiro proveito das análises geométricas dos renascentistas foi a tecnologia por eles desenvolvida: a «arte e a ciência» (linkG. Tory) de descrever as letras (e, por extensão, para descrever todos os demais glifos) com linhas rectas e curvas.

Os romanos não só desenvolveram o «nosso» alfabeto com os seus valores fonéticos, mas também a forma das letras, a sua estética e as relações recíprocas – espacejamentos – que hoje se chamam tracking e kerning.

Desenvolveram letras de pompa e celebração, mas também inventaram letras com formas muito condensadas – solução mais económica. Praticaram uma grafia tosca para documentos feitos à pressa.

Destes diferentes modos, uns eram usados para epígrafes, outros para documentos de uso diário, escritos com pena ou cálamo sobre pergaminho ou em tabletes de cera.

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Os estilos praticados foram

  • a Capitalis Quadrata,
  • a Rustica
  • e a Cursiva.

O termo Capitalis Quadrata designa letras versais cinzeladas em pedra. Mas a quadrata não foi uma letra exclusivamente lapidar, também foi usada para documentos escritos sobre papiro ou linkpergaminho.

Ocasionalmente, a pomposa capitalis quadrata era combinada com uma outra forma, considerada mais torpe, mais rústica.

linkCondensar formas: a Rustica

linkA letra redonda: Uncialis

 

1o tipos de letras romanas: fontes digitais

 

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