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José Stuart Carvalhais (1887-1961)Introdutor da BD em Portugal, desenhador, ilustrador, fotógrafo, realizador de cinema, actor, decorador, cenógrafo, figurinista e designer gráfico.Resumo: Ilustrador e desenhador, colaborou em vários jornais e revistas: 'Sempre fixe', 'Os Ridículos', 'Diário de Notícias', 'ABC'. Um extraordinário desenhador da Imprensa portuguesa do seu tempo e de todos os tempos, igualando os melhores artistas contemporâneos do mundo. Em 1949, os seus trabalhos valeram-lhe o Prémio Domingos Sequeira.
![]() José Herculano Stuart Torrie dAlmeida Carvalhais nasceu em 1887, em Vila Real de Trás-os-Montes, de pai português e mãe inglesa. O seu pai foi correspondente em Vila Real de um jornal humorístico e de caricaturas intitulado O Dragão, publicado no Porto, cujo primeiro número saiu em 1887. Após vários anos em Espanha, regressou a Portugal em 1891. A sua irregular vida escolar termina após passagem pelo Real Instituto de Lisboa (1901-1903). Como ilustrador, Stuart começa por participar em mostras colectivas, como as primeiras dos Humoristas em Lisboa (não integrando já as do Porto), a Exposição dos Humoristas Portugueses e Espanhóis (1920) e a Exposição de Artes Plásticas (1935). Expõem individualmente só em 1932. Galardoado com o Prémio Domingos Sequeira em 1949, manter-se-á figura isolada da primeira geração dos modernistas portugueses. Não aderindo à nova linguagem protagonizada por Almada Negreiro ou Santa-Rita, faz antes a ponte com a caricatura herdeira de Bordalo Pinheiro, e nutrida na estada parisiense de 1912-1913 afirmando-se como cronista perspicaz e cirúrgico.
Stuart não poupou a crítica a quem a mereceu e, em 1914, colabora no jornal satírico monárquico O Papagaio Real. Meio de sátira ao poder, a caricatura e a banda desenhada, que inicia em 1916 no suplemento humorístico de O Século com as célebres Aventuras do Quim e do Manecas, permitem-lhe um retrato de época crítico das poses da burguesia, às quais contrapõe tristezas e vilezas sociais, personificadas em tipos populares e miseráveis.
Os anos 20 marcam o grande sucesso de Stuart. Em 1921, trabalha para o Diário de Lisboa e para o Batalha. Em 1922, desenha para o ABCzinho, reiterando o sucesso das suas peças nos suplementos infantis. Colabora ainda com A Corja, o Espectro, A Choldra e o Diário de Notícias, a revista Ilustração (a cuja fundação está ligado) e com o semanário humorístico Sempre Fixe.
Como artista gráfico, soma encomendas: da ementa do Bristol Club, aos conjuntos de postais ilustrados realizados para a exposição de 1925 dos Mercados, ou à concepção da publicidade da Sassetti. É assim que, em meados da década, é o artista que contabiliza mais capas de livros e de pautas de música trabalho gráfico em cuja investigação associa o desenho aos tipos de letra a usar e com o qual ganha dois prémios em concursos internacionais, em Itália e Espanha. Cenógrafo e figurinista do Teatro Nacional e do Politeama, desenvolveu actividade no cinema (em 1916, trabalha na adaptação a filme das Aventuras do Quim e do Manecas), passa pela aventura da realização (O Condenado, com Mário Huguin) e desdobra-se como actor, decorador, cenógrafo e gráfico... Embora antifascista, como evidente nos trabalhos da década de 30, não perseguirá nos anos seguintes a via do «Neo-Realismo», onde poderia ter encontrado família artística, social e política. Os seus entraves à pintura, mantêm-no circunscrito ao exercício do desenho para periódicos.
A actividade constante, não se dividindo em décadas e expressões ou estilos, deu a Stuart a mestria de traço, que lhe permitiu variar os registos, evidencia sobretudo o manifesto desejo de liberdade creativa, nutrido por enorme apetência experimental. A sua própria vida, na qual o sucesso convive com o alcoolismo e a instabilidade financeira, leva-o à experimentação de materiais inesperados, não ortodoxos, como suportes ruinosos recuperados dos restos da cidade (papel de embrulho, tampas de caixotes), e até de alguns materiais de desenho, de que se destacam os fósforos queimados com que frequentemente traça composições.
«Stuart é um album de tipos estranhos, vergastados
pela dor, pelos sarcasmos da vida e nele as figuras irmam-se aos aspectos
sombrios de Lisboa, aquela parte de onde o sol não se debruça
todos os dias, onde há sempre trevas. E como Steinlen, Stuart busca os
tipos miseráveis, aqueles en cuja alma ulula o vento da tragedia; busca
as ruas escuras, a luz tibia, o claro-escuro.»
O filme «Quim e Manecas»Em 1916, estreou O Quim e o Manecas - um filme curto, baseado nas famosas histórias em quadradinhos de Stuart Carvalhais, publicadas no semanário humorístico O Século Cómico. A rodagem decorreu na rua e jardins da Escola Politécnica, no Bairro Brás Simões, além do cinema Colossal (Real Coliseu, na Rua da Palma) onde estreou. O argumento era de Stuart, em peripécias e tropelias de ocasião, capazes de provocar a hilaridade entre o público jovem. Infelizmente, não tiveram continuidade estas proezas de Manecas, nem sobreviveram as suas aventuras com Quim, que em 1930 ainda atraíam gente ao Chantecler. 1916 - O Quim e o Manecas 35 mm - pb - 10/15 m. Realização: Ernesto de Albuquerque. Produção: Empresa Internacional de Cinematografia. Argumento: Stuart Carvalhais. Fotografia: Ernesto de Albuquerque. Elenco: Stuart Carvalhais, Armindo Coelho, Octávio de Matos, José Clímaco. «Stuart», filme premiado no 30.º CinanimaDura só 11 minutos mas demorou dez anos a fazer a curta metragem animada Stuart, do realizador português José Pedro Cavalheiro, também conhecido como Zepe. O Grande Prémio Tóbis, entregue pelo júri internacional a um dos filmes portugueses a concurso, foi para "Stuart". Convidando-nos a uma deambulação pelas zonas mais sórdidas de Lisboa, a partir da obra de Stuart Carvalhais, o filme obteve ainda o Prémio António Gaio, a que concorreram 17 filmes de produção nacional e o prémio para a melhor banda sonora original. "A decisão de realizar um filme de animação sobre Stuart de Carvalhais assenta em dois pressupostos. O primeiro diz respeito ao próprio universo gráfico do artista, à tinta-da-china e à sua economia, capaz de captar as deambulações por Lisboa numa visão impressionista de personagens, ambientes e situações. O segundo advém de uma história mergulhada nas situações correntes do dia-a-dia, vividas em declínio lento, num espaço social e de trabalho alheio às elites culturais e à categoria de artista consagrado (isto apesar do enorme talento de Stuart). A característica de looser talentoso, no pano de fundo das décadas de 30 a 50, numa Lisboa ignorada e fechada sobre si mesma, tornou-se um veio principal do filme, estendendo-se em torno da fuga e da diluição. No fim de contas, não são só de Stuart as vontades que não se concretizam, os caminhos interrompidos, um país que vive de costas, com uma espécie de saudade de si mesmo. ... Não há uma apropriação directa das
ilustrações de Stuart mas sim a transposição livre
do universo do artista, pensada numa lógica de movimento." Slides de apresentação em aula / ULP
Temas relacionadosBibliografia
Página actualizada em 19.9.2009 |
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