Homepage tipografos.net   Search by FreeFind

mies van der rohe

Nascido em Aachen, em 1886, foi o próprio Mies van der Rohe quem nos deu a chave para a compreensão de sua arquitectura ao comentar, num artigo publicado em 1961, a influência que as construções da sua cidade natal exerceu em sua obra.

Ludwig Mies (o sobrenome da mãe, van der Rohe, foi incluído por Mies mais tarde) frequentou a escola da catedral de Aaachen construída por Carlos Magno e ajudou o pai na firma de cantaria que possuía.

Passou a sua infância e adolescência entre lápides e igrejas medievais. A sua formação não foi académica, mas de natureza prática.

os primeiros anos

A crise de valores em que se encontrava a Europa entre o final do século 19 e início do século 20 foi o pano de fundo e o contexto cultural que Mies encontrou em Berlim em 1905, quando foi trabalhar no escritório do arquiteto Bruno Paul.

Dois anos mais tarde, o professor de filosofia Alois Riehl queria que sua casa fosse construída por um arquitecto jovem. Bruno Paul recomendou Mies, que aos 21 anos projectou e construiu a residência de Alois Riehl, um dos principais filósofos berlinenses do início do século xx.

O projeto de Riehl abriu-lhe as portas da sociedade berlinense, pondo-o em contato com intelectuais e possibilitando-lhe trabalhar com Peter Behrens, para quem os outros pais do movimento modernista da arquitectura — Le Corbusier e Walter Gropius —, também trabalharam entre 1907 e 1910.

Mies procurou a influência de um outro precursor do movimento modernista, o arquiteto holandês Hendrik Berlage, com quem se encontrou em Amsterdão, em 1912.

Os princípios de Berlage baseavam-se no neoplatonismo da Idade Média, na filosofia de Santo Agostinho, cuja frase “a beleza é o brilho da verdade” tornou-se praticamente um axioma para Mies. Seguindo os passos do mestre Berlage, a lei universal não era mais a verdade histórica, mas a procura da essência, da verdade da construção.

Foi por essa busca constante da essência construtiva, da precisão do detalhe, que Walter Gropius apelidou Mies de “o solitário caçador da verdade”.

A arquitectura de Mies tornou-se estrutura e membrana externa, ou, como ele mesmo dizia, uma arquitectura de “pele e osso”. A perfeição técnica dos detalhes viria apenas a apoiar este sentimento de vazio do espaço, que segundo Mies, deveria ser preenchido pela vida.

Mies van der Rohe

Os projectos de Mies são, pors vezes, completamente ideais, somente espaço, como seus arranha-céus de vidro de 1922 ou a residência Farnsworth, nos EUA, de 1950.

Em outros, matéria e espaço interagem como na residência Tugendhat de 1931, património histórico da humanidade, na cidade tcheca de Brno.

Pavilhão alemão em Barcelona

Mies estava no auge de sua carreira na Alemanha, quando foi convidado para projectar o pavilhão alemão para a Feira Mundial de Barcelona em 1929, hoje ícone da modernidade. Em 1930, ele assumiu a direção da Bauhaus, em Dessau.

Expoente da Nova Arquitectura, Mies foi convidado a leccionar na Bauhaus, fundada pelo seu colega - e crítico - Walter Gropius.

Pertencem a este período algumas peças de mobília modernista, onde aplicou novas tecnologias industriais, que viriam a se tornar particularmente populares até os dias de hoje, como a Cadeira Barcelona (e mesa) ou a Cadeira Brno.

É desse período o seu projeto mais famoso, o Pavilhão Alemão da Feira Universal de Barcelona: uma estrutura bastante leve, sustentada por delgados pilares metálicos e constituída essencialmente por planos verticais e horizontais.

Após a Exposição, o Pavilhão foi demolido, mas sua importância foi tal que voltou a ser construído na década de 1990, como homenagem ao arquitecto e como símbolo do Modernismo.

PB

Mies parece ter adoptado, a partir dessa altura, a missão de criar um novo estilo e uma nova arquitectura que representasse a época que se iniciava — tal como a Arquitectura Gótica representara a Idade Média.

Tal arquitectura deveria ser guiada por um processo criativo assente em pressupostos racionais. Contudo, tal demanda viria a ser interrompida pela depressão económica e pela tomada do poder pelos Nazis, a partir de 1933.

A Bauhaus, financiada pelo governo, seria forçada a fechar as portas devido a pressões políticas do partido Nazi que a difamava como comunista.

Mies van Der Rohe era considerado na altura como um dos membros mais proeminentes da arquitectura vanguardista alemã.

Tal como Gropius, trabalhara no atelier de Peter Behrens e tornara-se famoso nos anos 1920 com projectos pioneiros para arranha-céus de aço e vidro.

cadeira
Cadeira desenhada por Mies van der Rohe
Cadeira de Mies van der Rohe
Cadeira desenhada por Mies van der Rohe

Na década de 1930, depois de Hannes Meyer, Mies foi, a pedido de Gropius, e por um breve período de tempo, o último director da Bauhaus.

«A sua figura alta, imponente», lembra o burgomestre Hesse, «com a expressiva cabeça davam a impressão de grande confiança e estabilidade interna... não restam dúvidas: era a pessoa indicada para devolver à liderança da Bauhaus o que ela tem vindo a perder de forma crescente nos últimos tempos: a autoridade.»

Os Nazis no poder e a emigração para os EUA

Em Abril de 1932, quando os Nazis queriam fechar a Bauhaus, Mies transferiu-a, com financiamento do próprio bolso, para um prédio industrial em Berlim-Steglitz. Em Julho de 1933, foi fechada pelos nazis. Mies não se considerava uma pessoa politizada. É interessante o seu comentário sobre um colega que havia trabalhado para os nazis: «Não o desprezo por ser nazi, mas por ser mau arquitecto.»

A década de 1930 não foram fáceis para Mies, que não conseguia construir e vivia dos móveis que havia projectado.

Emigrou para os EUA em 1938, aceitando o convite para dirigir o departamento de arquitectura do Instituto de Tecnologia de Illinois, em Chicago, cujo campus também projectou.

Na posse, foi saudado por Frank Lloyd Wright, que anos mais tarde o acusaria de haver fundado um novo Classicismo nos Estados Unidos.

A residência projectada para a senhora Farnsworth, em 1950, valeu-lhe um processo e, em época de caça às bruxas, a acusação de ser obra de comunista.

Mies deu um carácter «clássico» à sua arquitectura nos Estados Unidos. A sua obra tornou-se mais estática, sem o jogo de diferenças que enriquecia a sua arquitectura anterior.

Terminada em 1969, ano da morte de Mies, a Neue Nationalgalerie de Berlim, o seu único projecto construído na Alemanha após a II Guerra, comprova este «classicismo», embora apresente a mesma arrojada conquista espacial de seus projectos anteriores.

W

Topo páginaTopo página

Quer usar este texto em qualquer trabalho jornalístico, universitário ou científico? Escreva um email a Paulo Heitlinger.
copyright by algarvivo.com