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Papel artesanal

Pontusais, corondéis, marcas d’água...

Durante séculos, a produção de papel foi manual; as folhas eram feitas uma a uma. Inicialmente era feito de fibras vegetais, obtidas de restos e farrapos de tecidos (linho, cânhamo e algodão).

Este «papel de farrapos» foi utilizado em grandes quantidades até fins do século xvii; pontualmente, até hoje. Devido à maceração, as fibras entrelaçam-se, tornando o papel mais resistente.

As fibras não eram cortadas, para que ficassem longas, possibilitando assim um melhor enlace entre si. O papel daí resultante é mais resistente ao rasgo.

A polpa (ou pasta) deste papel de farrapos é obtida pela maceração de restos de tecidos na água.

Quando pronta, é-lhe adicionada água, numa grande tina (Bütte, alemão). Na tina se introduz o molde que dá origem a uma folha de papel.

Esse molde, ou grelha, ou peneira (Schöpfrahmen, alemão), era constituído por uma grade de fios metálicos. Imerso esse molde na tina com a polpa em suspensão aquosa, permitia recolhar parte dessa polpa, que ficava acomodada na superfície, formando o rectângulo da folha de papel.

Na China, a grade era feita de bambu; na Europa, de arame ou de fios de cobre. A prensagem, a secagem e a lixagem eram as fases finais da elaboração de um produto papeleiro perfeito para a Tipografia.

Após a imersão e suspensão da polpa dentro do molde, depositava-se a folha entre feltros. Posteriormente levava-se uma pilha de folhas e feltros até a uma prensa para eliminar o máximo de água excedente.

Depois era posta a secar ao ar livre. Quando seca, era aplanada manualmente («lixada»). A típica fôrma papeleira tem uma peneira (=grade) feita de finos fios de arame ou cobre, paralelos entre si e justapostos de modo muito apertado para deixar pouco espaço entres eles e assim impedir a passagem das fibras pelos interstícios que os separam. Apenas permitem que a água escorra.

Os fios paralelos que estreitamente justapostos são os «pontusais» e descansam sobre outros fios paralelos – os «corondéis» – que os cruzam perpendicularmente em pontos mais distanciados entre si que o estreito espaçamento entre os pontusais.

Nos pontos de cruzamento, os pontusais ficam amarrados sobre os corondéis para mantê-los imobilizados e assim fixar o seu posicionamento da fôrma mais conveniente para a retenção das fibras.

O conjunto de fios é denominado vergatura (vergeure, francês). Da palavra vergatura deriva o «papel avergoado» (laid paper, inglês; papier vergé, francês; geripptes Papier, alemão), que é o papel com linhas horizontais e verticais, visíveis – ou directamente, ou à transparência. É também chamado «papel linha d’água».

A peneira formada pelo entrecruzamento de pontuais e corondéis está fixa sobre a borda da moldura da fôrma. O conjunto de fios desta peneira forma uma superfície horizontal sobre a qual ficacolocada uma quantidade de pasta, retirada da suspensão aquosa e espessa de fibras. A pasta de consistência pastosa depositada sobre a peneira da fôrma papeleira adquire a forma dessa grade – o tamanho de uma folha de papel.

Em países com grande tradição papeleira, como a China, o Japão e a Coreia, as fôrmas têm grandes dimensões, e são manejadas com sistemas de suspensão por cordas, o que permite uma utlização mais racional e uma enorme poupança da considerável energia braçal.

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Tem registo de duas patentes do INPI, uma sobre reciclagem de papel moeda e a outra sobre reciclagem de «bitucas de cigarro». Ministrou vários cursos de papel artesanal e coordena o Projeto Reciclando Papéis e Vidas de capacitação de egressos do sistema penitenciário. É directora cultural da ABTCP onde actua em comissões técnicas sobre papel artesanal. A magia do papel. Porto Alegre: RIOCELL, 1994. 144 p. ABRÃO, Fatima Mohamed. Papel machê e seus usos. Curitiba: Ed. Do Autor, 2002. 79 p. ADEODATO, Sergio; FIORAVANTI, Carlos; BECCARI, Alfio. O papel que pão polui: pesquisa. In: Globo ciência, Rio de Janeiro vol. 4, n. 38 (set. 1994), p. 63-65. BERND, Zila. A magia do papel. 1. ed. Porto Alegre: Riocell, 1994. 143 p. CASA BRANCA, Tene De. Criança, cola e papel. 1. ed. São Paulo: Nobel, 1988. 62 p. CASEY, James P. Pulp and Paper : chemistry and chemical technology. New York: Interscience, 1952. 2 v. CASEY, James P. Pulp and paper : Chemistry and chemical technology. 2. ed. 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